Espírito de Minas passa pela Estrada Real
- Da Redação
- 17 de abr. de 2023
- 6 min de leitura
Trajeto que já levou nossas riquezas embora, agora traz de volta nossa essência através das atrações das cidades que fazem parte do caminho

Pórtico da Estrada Real próximo ao trevo de Ouro Preto, em Minas Gerais (Foto: Lu)
Viajar pela Estrada Real é viver uma parte importante da história de nosso País. É conhecer lugares especiais e de muita cultura. É passar por caminhos bastante interessantes. Ao longo de seu percurso, o turismo se apresenta em múltiplos estilos: histórico, cultural, lazer, aventura, religioso, gastronômico, rural e de saúde -, sendo capaz de oferecer um pouco de tudo em uma só viagem.
No século XVII foi descoberta uma das maiores reservas de ouro e diamante do mundo onde hoje está Minas Gerais. Tanta riqueza atraiu atenção de gente de várias partes do mundo. Em pouco tempo surgiram caminhos para ligar o litoral do Rio de Janeiro à região das minas.
A quantidade de pessoas que viajavam à região em busca de fartura ligou alerta e a Coroa Portuguesa, no século XVIII, decidiu controlar os mineradores e implantou um robusto processo de arrecadação de impostos. Foi quando decidiu oficializar os caminhos para o trânsito de ouro e diamantes e decretou que esses caminhos teriam fiscalização e controle sobre a circulação de pessoas e mercadorias.
Assim surgiram as três primeiras estradas oficiais do Brasil, ligando o Arraial do Tijuco (Diamantina) à capital do Rio de Janeiro e Paraty à região de Vila Rica (Ouro Preto). Várias cidades se desenvolveram a partir dessas estradas.
Delas fazem parte as vias de acesso, as trilhas calçadas pelos escravos, os pontos de parada, as cidades e vilas históricas, que serviriam de cenário à Inconfidência Mineira (principal movimento de contestação à Coroa Portuguesa naquela época, liderado pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes).
Ao longo de quase 1.600 quilômetros, a Estrada Real refaz o caminho do ouro e do diamante do período Brasil Colônia. A ideia central era obrigar que os impostos sobre as mercadorias transportadas fossem pagos. Se alguém decidisse sair da Estrada Real para evitar os tributos, estaria cometendo contrabando contra a Coroa.
O Caminho dos Diamantes (da década de 1720) se somava ao Caminho do Ouro, tendo Vila Rica como eixo central. Com a exaustão das minas, na virada para o século XIX, a Estrada Real começou a perder sua importância. Após a Independência do Brasil (1822) as antigas estradas reais ficaram livres para o trânsito.
Vários caminhos
A Estrada Real é formada de quatro caminhos. O Caminho Velho ou Caminho do Ouro foi a primeira estrada aberta pelos bandeirantes para ligar Paraty a Ouro Preto. Foi utilizado a partir de 1694, numa viagem que demorava 60 dias. Cruzava as atuais regiões de Taubaté, Guaratinguetá, Serra da Mantiqueira, Passa-Quatro, Itanhandu, Pouso Alto, Baependi, Conceição do Rio Verde, Ibituruna, Rio das Mortes, São João Del Rei, Tiradentes, Mariana e Ouro Preto. Anos depois, com a expulsão de piratas e ladrões do porto do Rio de Janeiro e da Ilha Grande, o governo português incentivou a abertura de uma segunda via.
Em 1701, foi aberto o Caminho Novo. Esta foi a segunda estrada aberta. Seu trajeto começava na Baía de Guanabara e passava pelas localidades de Inhaúma, Iguaçu, Rio Paraíba, Rio Paraibuna, Simão Pereira, Matias Barbosa, Juiz de Fora, Santos Dumont, Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Ouro Branco e Ouro Preto.
O caminho foi criado para ser o mais seguro ao porto do Rio de Janeiro, se tornando a via oficial para esse trajeto. Ele guarda uma série de elementos da época das bandeiras e das primeiras explorações do território.
Em 1729, a descoberta de diamantes em Diamantina, na época Arraial do Tijuco, estendeu a Estrada Real até lá. Foi aberto então o chamado Caminho dos Diamantes. Tinha a intensão de conectar a sede da capitania, Ouro Preto, à principal cidade de exploração de diamantes, Diamantina.
Belezas naturais
Fatos históricos foram marcados no trajeto. Durante o movimento dos Inconfidentes, por exemplo, as estalagens e os pousos foram utilizados por Tiradentes para pregar a liberdade e a independência do Brasil. D. Pedro I também aproveitou para visitar Minas Gerais por este caminho em duas ocasiões: 1822 e 1831.
O Caminho dos Diamantes segue ao longo da Serra do Espinhaço, considerada reserva da biosfera pela Unesco desde 2005. Ou seja, além da sua grande bagagem histórica e cultural, este caminho é repleto de belezas naturais.
Há 300 anos, viajantes avistaram um brilho no topo da Serra da Piedade e imaginaram ser ouro. Para chegar lá, criaram uma via alternativa, que originou o Caminho Sabarabuçu. Mas tiveram uma surpresa: o que refletia a luz solar era, na verdade, minério de ferro. Este quarto caminho leva Ouro Preto a Sabará.
Três séculos depois, o mesmo caminho por onde foram transportados ouro, diamantes e pedras preciosas de Minas Gerais para o resto do mundo está sendo redescoberto e revitalizado. São 1.630 quilômetros que cortam Minas Gerais, Rio de Janeiro e parte de São Paulo, passando por 177 cidades que possuem um rico acervo histórico, cultural, artístico, gastronômico, rural, religioso. As belezas naturais da região, como serras, cachoeiras, rios e florestas, também integram o patrimônio da Estrada Real.

Mapa da Estrada Real mostra os quatro caminhos que podem ser visitados pelos turistas (Imagem: IER)
Revitalização
Hoje, a Estrada Real possui em seu trajeto Patrimônios da Humanidade, como a cidade de Ouro Preto. Além disso, estão presentes vários patrimônios naturais e histórico-culturais em nível nacional, estadual e municipal.
Essa revitalização é resultado de uma parceria do governo estadual com entidades como a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e o Instituto Estrada Real. O projeto Estrada Real é a principal iniciativa do governo de Minas Gerais na área de turismo e o mais importante programa turístico em implantação no País.
Seu objetivo é promover o desenvolvimento dos 162 municípios mineiros situados na área de influência da Estrada Real, por meio do incentivo ao turismo cultural, religioso, histórico e rural, ecoturismo e turismo de aventura.
Passaporte
Faz parte do projeto a criação de um passaporte da Estrada Real. Trata-se de um registro único que permite ao visitante acompanhar e marcar todas as suas experiências nos caminhos da importante via.
Para adquirir, basta preencher o cadastro do passaporte no site especifico (LINK). Ao longo da Estrada Real, obtém-se carimbos de diversas cidades, em determinados pontos, preenchendo o passaporte. Ao fim da jornada se obtém um certificado para cada um dos caminhos.
Entretanto, cada trecho exige seu número mínimo de carimbos.
Veja como:
Caminho Velho: 14 carimbos
Caminho Novo: 8 carimbos
Caminho dos Diamantes: 10 carimbos
Caminho Sabarabuçu: 4 carimbos
Os viajantes que percorrerem os quatro caminhos são contemplados com o Certificado Digital Especial. Ele é o reconhecimento máximo da Estrada Real. Para conseguir é preciso enviar um e-mail (passaporteestradareal@fiemg.com.br), com imagens da página inicial do passaporte e páginas com carimbos, para conferência.
Passaporte da Estrada Real é um registro que permite ao visitante acompanhar e marcar todas as suas experiências (Fotos: Tavinho)
Lugares especiais
Viajar pela Estrada Real é viver uma parte importante da história de nosso País. É conhecer lugares especiais e de muita cultura. É passar por caminhos bastante interessantes. Ao longo de seu percurso, o turismo se apresenta em múltiplos estilos: histórico, cultural, lazer, aventura, religioso, gastronômico, rural e de saúde -, sendo capaz de oferecer um pouco de tudo em uma só viagem.
A história dos tempos do ouro e do diamante pode ser revivida pelos Caminhos da Estrada Real formada por quatro Patrimônios da Humanidade (Ouro Preto, Diamantina, Congonhas e Parati).
Nessas cidades ficam os principais conjuntos arquitetônicos do período colonial brasileiro. São atrativos espalhados pelas ruas, no casario colonial, em igrejas ou em festivais de música e cinema. Antigas minas de ouro e museus preservam a memória dos costumes do Brasil colonial.
Sabores e aventuras
Os sabores da Estrada Real são uma grande mistura. O tradicional e o contemporâneo estão em cada prato, temperados pela constante reinvenção e criatividade de uma cozinha reconhecida internacionalmente. O modo de fazer o queijo artesanal da região do Serro foi registrado como Patrimônio Cultural Imaterial. A culinária regional é a mais rica e variada do país.
Na Estrada Real, a simplicidade faz parte da rotina. É possível viver um típico dia do interior, ao estilo de vida com cheiro de mato. Essa é a oportunidade para aqueles que querem viver uma experiência rural única.
O espírito aventureiro também faz parte da Estrada Real desde a época dos bandeirantes. A mata, que antes escondia riqueza, agora revela lugares perfeitos para o ecoturismo e esportes de aventura, em meio a belas paisagens, montanhas, cachoeiras e parques naturais com natureza preservada. Ao longo do caminho, o viajante conhece as mais importantes estâncias hidrominerais do País.
A arte que emoldurou igrejas, sobrados e monumentos públicos ganha uma nova tradução nas mãos do artesão. Tem a capacidade de interpretar um povo ao mesmo tempo antigo e contemporâneo. São materiais brutos como a madeira, pedra, ferro, fibra, flor e barro, que se transformam em obras surpreendentes e provocam deslumbre pela criatividade.
Viajar pela Estrada Real é conhecer também a fé, as tradições e a hospitalidade de um povo. Nas grandes festas religiosas, nas manifestações folclóricas ou na rotina diária, os moradores dividem com os visitantes suas histórias e seus costumes.
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